Brasileiro se endivida, investe menos e finanças pioram
Com contas no vermelho, mais dívidas e menos investimentos, as finanças dos brasileiros pioraram 9,5% no primeiro semestre, segundo o Índice de Saúde Financeira calculado pelo GuiaBolso.
Em uma escala que vai de zero a 700, o indicador fechou junho em 389
pontos, ante 430 em janeiro. Preços em alta são o principal motivo
apontado para o descontrole do orçamento.
"O orçamento foi impactado pela inflação. Começamos a ver uma influência
do desemprego, mas ainda está no início", afirma o presidente do
GuiaBolso, Thiago Alvarez. Ele conta que, entre os pesquisados, as
contas residenciais - basicamente energia e água - tiveram aumento de
mais de 44%, alta considerada significativa.
A empresa, que desenvolveu um aplicativo de finanças pessoais que hoje
conta com 950 mil usuários, fez a pesquisa com base em uma amostragem de
10 mil pessoas, segmentadas por região e renda.
O aplicativo tem acesso à movimentação da conta corrente dos usuários,
para assim construir uma espécie de planilha automática que aponta onde
eles estão gastando o dinheiro.
Com base nesses dados, foi montado o Índice de Saúde Financeira, formado
por três categorias: fluxo de caixa (se o usuário gastou menos do que
ganha no mês), dívidas (se houve aumento do uso do cheque especial) e
investimentos (se a pessoa aplicou parte dos recursos).
O indicador piorou nos três quesitos. "Em janeiro e fevereiro, o índice
era considerado saudável, mas passou para o nível febril nos meses
seguintes, em que o fluxo de caixa na média se manteve negativo", diz
Alvarez. Com os gastos maiores do que os ganhos, a saída encontrada por
muitos foi recorrer ao cheque especial. "Não sobrou nada para investir",
comenta.
Em junho, mais da metade dos pesquisados (52%) gastou mais do que a
renda, contra 48% em maio. Aproximadamente 13% utilizaram o cheque
especial, pagando em média R$ 179 em juros. E 68% resgataram mais
dinheiro do que investiram.
Para equilibrar o orçamento, a sugestão é anotar os gastos e conhecer a
renda. O GuiaBolso calcula que o brasileiro superestima a renda em 7%,
pois esquece de descontar os impostos e contribuições do holerite.
"A renda encurtou e os preços subiram, mas a nossa velocidade para abrir
mão de hábitos conquistados, como a TV a cabo, não é a mesma do que a
das mudanças financeiras", diz o professor do Instituto Educacional da
BM&FBovespa, Arthur Vieira de Moraes. Ele explica que o planejamento
financeiro não precisa ser algo complexo.
Basta um primeiro passo para que a pessoa saiba onde está errando. "Em
um mês que o consumidor anotar os gastos, ele já vai conseguir ver como
está o orçamento", avalia. Para isso, o interessado pode utilizar
aplicativos como o GuiaBolso, planilhas online como a da Bolsa
(bit.ly/1dTDAXS) ou mesmo fazer seu próprio orçamento.
O cheque especial, uma das modalidades mais caras de crédito (em junho, a
taxa de juros atingiu 241,3% ao ano), é um bom instrumento de
financiamento, desde que usado com cautela.
Os especialistas indicam que o cheque especial deve ser usado por no
máximo três dias. Acima disso, já é melhor utilizar outras linhas de
juro menor, como o crédito consignado ou mesmo o pessoal.
Caso a pessoa já esteja endividada, a recomendação é estancar a dívida
do cheque especial, além de tentar uma negociação com o credor. "É
preciso trocar a dívida cara pela barata, se é que existe dívida barata
no Brasil", diz o professor.
"A dívida mais adequada seria aquela com um juro em torno de 5% ao mês.
Com o dinheiro em mão, é possível pagar o que deve negociando um
desconto", diz.
Questão cultural
A pontuação do índice, que no máximo pode somar 700, se divide
igualmente entre três categorias, sendo que cada uma delas chega a 233
pontos aproximadamente.
Dos três parâmetros, o investimento foi o aspecto que mais piorou no
semestre, tendo recuado 21%. Alvarez comenta que pesa no resultado o
aspecto sazonal, já que, em janeiro, a população em geral está com mais
recursos devido ao 13º salário e ao pagamento de bonificações.
Chama a atenção o fato de o investimento ser a categoria de menor
pontuação entre as três do índice. Em nenhum mês chegou a alcançar 100
pontos. Nesta questão, diz Moraes, pode pesar a falta de cultura de
investimento do brasileiro, que ainda aplica pouco, mesmo havendo mais
informações e produtos no mercado.
Deixar o dinheiro parado na conta corrente é uma péssima opção,
principalmente em um País no qual a inflação é alta. Um estudo do
Instituto Assaf mostra a perda do valor da moeda no tempo. Um brasileiro
que deixou R$ 100 na conta corrente em 1994 hoje teria o equivalente a
R$ 19,89, por causa da inflação acumulada de 402,74% nestes 21 anos de
Plano Real.
Especialistas lembram que o momento do cenário econômico não é dos melhores, mas que há oportunidades entre os investimentos.
"Se o Brasil tem o maior juro do mundo, isso é péssimo para quem paga e
ótimo para quem empresta. Todo mundo devia ter como meta deixar de ser
devedor para ser credor. É uma questão de escolha", afirma o professor
do instituto da Bolsa. As informações são do jornal O Estado de S.
Paulo.
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